Há muito, muito tempo a Terra pertencia às criaturas da floresta. Por criaturas da floresta, entenda-se gnomos e elfos, faunos e fadas, duendes, ogres, trolls e bogies, ninfas, trasgos e dríades. Eles vigiavam-na e cuidavam dela, brincavam, dançavam e cantavam, tratavam dos animais feridos, resolviam disputas entre as espécies, discutindo assuntos de importância, bebendo chá de Labrador, desciam pelas correntes de água montados, lançavam-se de árvores. Foi uma otima fase. Os primórdios, quanto o Homem não passava de um mero convidado recém-chegado que ainda não se tinha assenhorado de toda a casa, estão suficientemente documentados na literatura folclore de todo o mundo, por isso é desnecessário irmos por aí.
A fricção entre o Homem e as criaturas da floresta começou com a descoberta da agricultura. Com ela, a civilização floresceu e expandiu-se. As florestas garantiram o fornecimento de madeira para abrigar, enquanto os campos foram usados para o cultivo e as pastagens. A humanidade instalou-se. Já não era um visitante do mundo de outrem mas aquele que afastava definitivamente a vida selvagem da soleira da sua porta recém construída. De início, isto não constituiu um problema. Não havia muita gente, e todos consideravam ser justo. Alguns até decidiram ajudar. . Os espíritos dévicos dos vegetais ajudavam os humanos a organizar melhor as suas sementeiras, informando-os sobre a rotatividade dos cultivos, a correlação entre os ciclos lunares e planetários, o calendário agrícola, sobre a plantação de rabanetes quando a Lua está em Câncer, ou colheitas quando a Lua está em Touro. Muitos trolls sentiram que os montes de estrume eram uma mudança para melhor e, decidiram ficar por perto. Provavelmente a Astrologia se originou neste tempo. Onde a mediunidade era fina e o contato com os espiritos perfeita.
Os primeiros humanos tinham um conhecimento intuitivo do seu papel na natureza, tal como os ursos, os guaxinins e os ratos e todas as outras criaturas têm. Eles percebiam, através da vida selvagem à sua volta, que tudo tinha uma origem e que nada desaparecia. As coisas mudam de forma. A morte é necessária para que a vida continue. Eles ofereciam as suas mortes como sacrifícios aos deuses da natureza (erroneo é claro, mas foi assi que perceberam). Ofereciam louvores, orações, sacrifícios e canções ao espírito da natureza, ao irmão búfalo, ao irmão veado, ao irmão peixe e à irmã árvore. O homem nao era tão violento, corrupto ou avarento. Tinham pureza na alma.
Portanto o sacrifício, a canção, o louvor, a oração não asseguravam a imortalidade do sacrificado, em corpo e em espírito. Isso já estava tratado. O que garantia, isso sim, era a continuidade da ligação entre o espírito do sacrificador e do sacrificado. Matar é um assunto arriscado. A membrana que separa o interior do exterior não é necessariamente tão densa ou tão difícil de definir como temos vindo a supor. Sempre que matamos, arriscamo-nos a matar a realidade daquela coisa dentro de nós mesmos, bem como no exterior. Arriscamo-nos a quebrar as ligações que conduzem para dentro e fora da membrana. Tirar a vida para alimentar a vida requer um aguçado conhecimento das leis naturais de dar e tirar. Quando perdemos esse conhecimento e desistimos das canções, do sacrifício, das orações, dos louvores, perdemos a ligação. Dar graças não chega.
Fomos nós quem se lançou em queda do mundo real para outro onde podemos levar avante os nossos sonhos distorcidos e estéreis, sem ameaçar a Terra e os seus habitantes. A razão por que as árvores, as pedras, os rios, as correntes, as aves, as cobras, os ursos e as rãs já não conversam connosco, tal como o faziam nas primeiras histórias dos nativos americanos, ou dos povos hindus, africanos ou nas histórias bíblicas, é por que nós já não estamos lá para o fazer. Cada desflorestação, cada vivissecção, cada massacre mecanizado afasta o nosso mundo de sonho cada vez mais e mais da árvore, tornando ainda mais difícil a reunificação, que ainda é possível. Aquela Arvore da Vida, mostrada na Biblia, é muito dificil de ser alcançada hoje! Infelismente, ainda alguns poucos podem ter esse toque divinal. Na verdade o homem peca muito por não respeitar a natureza e ao seu proximo, até porque não respeita nem a si mesmo! Busquemos a harmonia com a Natureza.
Carlos Lima - Pesquisas.
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