Castidade: virgindade da mulher
Reclusas, as sacerdotisas da deusa Vesta recebiam privilégios impensáveis a outras mulheres de sua época e ocupavam um alto status na comunidade. Tinham a obrigação de se manter castas durante 30 anos após escolhidas para a tarefa. Caso violassem a regra, recebiam penas duríssimas. Podiam até terminar enterradas vivas.
No sossego de suas casas, ocupados com as tarefas do cotidiano, os romanos viviam protegidos por uma chama que não podia se apagar. O fogo queimava em uma pira protegida pelas paredes do templo da deusa Vesta, no monte Palatino. Eles não imaginavam como a labareda, que homenageava a divindade encarregada de zelar pela união das famílias da Roma antiga, era mantida acesa. O mistério da chama só era conhecido por poucas pessoas. Em particular por moças abastadas, filhas de família de conduta impecável e virgens. Eram elas, as vestais, as encarregadas de não deixar o fogo apagar.
Uma vez selecionadas, as meninas deveriam passar as próximas três décadas isoladas do convívio em sociedade. Viviam cercadas pelos muros altos do templo, localizado nas colinas romanas, onde também ficavam o Fórum e o Circo Máximo. Sob supervisão do Pontifex Maximus, título do maior dos sacerdotes de Roma, a chama do templo era mantida acesa sob disciplina militar. Nos primeiros dez anos de serviço, as vestais estudavam: aprendiam latim, histórias sobre a vida de Vesta – que era, segundo a mitologia romana, virgem – e questões de Estado. Nos dez anos seguintes, a tarefa principal era mais prática: revezar-se para alimentar a chama. A última década era voltada ao ensinamento: elas deveriam passar seu conhecimento para as novatas. Ao todo, entre as mais velhas e as mais jovens, o templo abrigava 18 sacerdotisas.
Apesar da sombra da punição, ser uma discípula de Vesta era uma honraria ambicionada e rara. Só eram levadas para o monte Palatino as meninas de origem nobre. Com o consentimento dos pais e sem poder de escolha, as garotas eram recrutadas pelo sacerdote supremo do templo antes da puberdade. Ingressavam no grupo sem imaginar que sua principal tarefa era cuidar da chama de Vesta. A escolha, em geral, ocorria quando elas estavam com cerca de 7 anos, mas podia ser mais tarde. “A virgindade era apenas um dos requisitos para a escolha”, afirma a historiadora Renata Senna Garraffoni, professora da Universidade Federal do Paraná. “A menina deveria ser fisicamente perfeita. Além disso, era importante que a família fosse exemplo de perfeição em vários aspectos. Os pais tinham de estar casados, não podiam ter sido escravos nem ter tido qualquer envolvimento com negócios escusos. Órfãs também não eram escolhidas.”
Considerada eterna e pura, a chama em homenagem à deusa funcionava como uma espécie de garantia de que Roma não seria invadida ou violada. “Por isso há uma relação direta entre a manutenção da virgindade e a proteção da cidade, destinando às vestais um lugar de destaque”, diz a historiadora. Segundo Holt Parker, especialista em estudos clássicos da Universidade de Cincinnati, nos Estados Unidos, as vestais tinham até privilégios legais: não estavam tuteladas pelo pai ou pelo marido, prática comum entre as romanas. Elas eram tiradas de suas famílias ainda crianças, mas não passavam a pertencer a ninguém mais, tornando-se, assim, independentes e especiais aos olhos da sociedade e da legislação.
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