As formigas eram todas operárias, não tinham rainha ou alimento normal no bunker nuclear, e tiveram de recorrer a uma prática estranha para sobreviver.
Abandonada e considerada morta durante anos depois de cair em um bunker destinado a abrigar armas nucleares, uma colônia de formigas recorreu aparentemente ao canibalismo necrótico não só para sobreviver, mas também para prosperar, relata um estudo publicado no Journal of Hymenoptera Research.
As formigas foram descobertas em 2013 em um arruinado e abandonado bunker de armazenamento de armas nucleares na zona rural da Polônia graças a uma contagem anual de morcegos hibernantes no mesmo bunker.
© AFP 2019 / PATRICK PLEUL
Formiga vermelha da madeira europeia (Formica polyctena)
Mas a colônia que os pesquisadores encontraram era incomum, pois era composta inteiramente de formigas operárias, sem nenhuma rainha à vista, e não tinha nenhuma fonte óbvia de alimento disponível. Os insetos foram parar no bunker ao caírem pelo tubo de ventilação, sem chance alguma de voltarem ao ninho, revela a equipe de investigadores liderada pelo professor Wojciech Czechowski, da Academia de Ciências da Polônia.
"Nosso estudo anterior [2016] também deixou em aberto como a colônia de bunkers poderia sobreviver e crescer sem acesso a áreas de forrageio. Um meio evidente poderia ser o canibalismo", observa o estudo.
"Sabe-se que as formigas carpinteiras consomem cadáveres de seus iguais deixados em massa no solo durante espetaculares 'guerras de formigas' no início da temporada. A função de tais guerras é estabelecer as fronteiras das colônias de formigas vizinhas, mas os cadáveres também aumentam substancialmente os escassos recursos alimentares disponíveis quando a colônia começa a viver depois do inverno."
O que aconteceu com a colônia?
Os pesquisadores verificaram que a quantidade de Formica polyctena não diminuiu. Na verdade, elas proliferaram, apesar de todas as dificuldades em tentar sobreviver. Os cientistas estimaram a presença de cerca de um milhão de formigas "invasoras", e mais dois milhões de formigas mortas no bunker.
Em 2016, os cientistas experimentaram criar uma ponte para que as formigas pudessem retornar à colônia original. Eles permitiram que cem indivíduos recuperassem o acesso ao ninho, onde viram que foram aceitos como pertencentes à colônia maior e original.
"Usando um calçadão instalado experimentalmente, as formigas aprisionadas conseguiram passar pelo tubo de ventilação até seu ninho materno no topo do bunker", afirma o estudo.
Depois desse sucesso, eles tornaram a ponte permanente, e as visitas mais recentes ao bunker revelaram um número muito pequeno de formigas que ainda vivem lá embaixo, com a grande maioria provavelmente tendo retornado ao ninho original.
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