Sob a Benção dos orixas

Sob a bênção dos orixás no famoso Gantois:
O refinado nome do mais famoso terreiro do Brasil provém de uma família francesa, antiga dona do terreno que foi comprado pela lendária Maria Júlia da Conceição Nazaré, verdadeiro mito entre as antigas mães de santo da Bahia. Após uma disputa pelo trono da Casa Branca, a iyalorixá deixou o terreiro e chegou ao alto do bairro do Gantois, onde arrendou seu quinhão de terra. Maria Júlia, sob as bênçãos dos orixás, terminou construindo uma das mais sérias casas de nação Kêto do estado, num esforço constante para levar à frente as tradições do grupo.

O candomblé do Gantois sempre foi dirigido por mulheres descendentes da fundadora. A última mãe a governar o terreiro foi Cleuza de Nanã, já falecida. A yalorixá, que foi a quarta comandante da casa (depois de Maria Júlia, vieram Pulchéria e Menininha). A filha de Cleuza, Mônica de Millet, é a sucessora por direito do posto de yalorixá, mas, criada em São Paulo, distante da vida da roça, se negou a assumir o lugar da mãe. É muito comum haver brigas ou mesmo cisões depois que uma mãe da casa morre, a exemplo do que aconteceu no Engenho Velho (foi de lá que saíram as fundadoras do Afonjá e do próprio Gantois, como foi dito).

A filha de Xangô Nadja Cazajeira, 37 anos, era uma das mais fiéis seguidoras de Cleuza. "Sinto muita saudade dela, uma mulher carinhosa e muito querida pelo povo do Gantois", diz Nadja, iniciada aos 17 anos de idade pela própria Cleuza de Millet. Cleuza era filha carnal de Escolástica Maria de Nazaré, a Mãe Menininha, sem dúvida a yalorixá mais popular de todo Brasil. Foi ela quem tornou o nome do Gantois conhecido em todo o país, junto aos seus filhos Caetano e Maria Bethânia e a seu ogã Jorge Amado. Menininha foi mãe-de-santo por mais de meio século, tendo sucedido mãe Pulchéria, sua tia-avó e filha da fundadora.

Acostumados a receber visitas de turistas do mundo inteiro (e, com eles, algumas gafes imperdoáveis), os responsáveis pelo espaço afixaram placas de aviso informando que não se pode circular no espaço sem camisa, descalço ou mesmo de roupas pretas. Não se deve, de forma alguma, ir além dos limites impostos pelos responsáveis da casa. Uma das grandes atrações do Gantois é o Memorial Mãe Menininha, que funciona no quarto da falecida yalorixá e guarda seus pertences e ferramentas de sacerdotisa.

Muita preparação para integrar-se ao terreiro:
Para ser iniciado no Candomblé, é necessário que a iyalorixá descubra quem é o "santo de cabeça" do pretendente. Para isso, ela consulta Ifá, deus da adivinhação, através dos búzios. Sabendo quem é seu deus, o iniciando (abiãs, no caso das mulheres), já precisa iniciar suas obrigações religiosas e oferecer comidas ou outras oferendas ao orixá no seu dia. É necessário que o noviço more um tempo no candomblé, recebendo orientações da mãe-de-santo. Ali, ele irá tomar banhos de purificação, à base de folhas sagradas, ao ar-livre. O treinamento para fazer parte do terreiro é duro e requer muito estudo. Uma das obrigações de todo filho é saber reconhecer os toques dos atabaques (cada santo tem um específico), os cantos para cada orixá e palavras em iorubá.

Após um período, é feita uma cerimônia de confirmação, onde o alabê (chefe da orquestra do candomblé) toca sete, quartoze ou vinte e uma cantigas para que o santo do iniciado se manifeste. Se o orixá atender (o que geralmente acontece no momento da primeira leva de cantigas), o noviço é, então, chamado de iaô.

Sua cabeça é raspada, seus hábitos alimentares alterados. Relações sexuais ficam proibidas e devem-se falar apenas poucas palavras com os chefes do terreiro. Com outras pessoas, nenhuma palavra deve ser trocada. A cabeça dos iniciados é pintada de branco, com desenhos que variam de acordo com o santo.

Nesse período, os iaôs se banham, durante a madrugada, em riachos ou fontes perto do terreiro. Escolhida a data do orunkó, dia em que os santos dão o nome de Candomblé ao noviço, é feita uma das mais bonitas festas da religião. O iaô grita seu novo nome sob aplausos dos outros filhos. Mais tarde, suas antigas roupas serão lavadas na fonte ou no riacho em que ele se banhava, para purificar. Agora, ele já faz parte do terreiro e é filho de uma divindade.

Podemos notar que tudo se da através da Ritualística Sagrada. Isso tudo com muito respeito e amor, tanto as tradições, quanto aos Orixás como representantes do Criador Supremo.

Carlinhos Lima – Astrólogo, Tarólogo e Pesquisador.