A finalidade da Umbanda é devolver ao homem sua cidadania espiritual, e sabe que isto só será possível quando estivermos irmanados, vencendo as barreiras do orgulho, da vaidade, das ilusões e do egoísmo, banindo de vez os três maiores venenos do planeta: a ignorância, o ódio e a inércia espiritual. Vencida esta etapa, podemos somente então nos credenciarmos a abrirmos os portais da estrada que nos levará ao Grau de Mago, pois finalmente descobriremos que a verdadeira Magia é decifrar a Esfinge que nos incita a constante prática do "Conhece-te a ti mesmo".
Voltando a Magia, chamamos a atenção de todos os aprendizes de feiticeiros, por favor, fechem os olhos, e saiam do "Mundo de Oz" e caiam na realidade. Não se deixem ludibriar por aqueles que apenas desejam dar vazão ao seu "Complexo de Merlin", verdadeiros ególatras, que vivem no mundo de fantasias e aparências, visando unicamente saciar a sua sede de poder, domínio e é claro, amealhar fortuna a custa de outrem.
Para muitos o título desse artigo, "Umbanda não é Espiritismo", pode parecer algo impróprio, errado, e absurdo, pois consideram a Umbanda como uma forma de Espiritismo. Devemos lembrar que na prática, no dia-a-dia, podemos misturar ou sincretisar diversas formas do sagrado, como: costumes, ritos, doutrinas, criando outras práticas religiosas que não são a soma dessas crenças, mas outras formas de praticá-las, outras formas de manifestação de fé. Porém, isso não quer dizer que estejamos certos dentro dos preceitos, dos conceitos e dos fundamentos dessas práticas (individualizadas) que misturamos sem a menor cerimônia.
Cada religião tem suas regras e suas normas, sejam elas codificadas ou não. Existem conceitos que devem ser seguidos que caracterizam e individualizam aquela religião, aquela forma doutrinária que, ao misturarmos, estamos quebrando.
Isso acontece, pois existe um conhecimento superficial das religiões misturadas em seu aspecto individual, ou não se leva em consideração suas regras. Assim os indivíduos pegam o que "acham bonitinho", elevado, bom aos ouvidos, dessa ou daquela tradição, e acaba levando isso para sua casa, e, mais tarde, para o terreiro de Umbanda.
À relação de alguns umbandistas e de algumas formas de Umbanda com o Espiritismo é algo muito curioso. Alguns umbandistas vieram de casas espíritas, pois lá não podiam trabalhar com seus guias (pretos-velhos, caboclos etc).
Pessoas que às vezes passaram 5, 10, 15 anos dentro do Espiritismo e, sem mais nem menos, começaram "a receber" guias de Umbanda e foram "obrigadas" a se retirar dos centros Espíritas porque o trabalho desses guias não é aceito pela doutrina Espírita. Algumas dessas pessoas que vieram do Espiritismo acabaram criando, por uma necessidade de trabalho espiritual, suas casas e adotaram como forma doutrinária os livros espíritas e fizeram adaptações para que o trabalho realizado não fosse assim tão incompatível com o Espiritismo.
Podemos destacar alguns exemplos, como: a negação de alguns elementos africanos (atabaques, culto aos Orixás, corte ritual, obrigações, confirmações, roupas especiais); não trabalhar com crianças (o espírito infantil, ibeji, não é suportável dentro da doutrina espírita, sendo uma condição que deve ser modificada para uma forma adulta); não trabalhar com exus (considerados pelo Espiritismo como obsessores ou "de baixa evolução") ; não utilizam imagens nem gongá (congá ou peji).
Em outras casas os sacerdotes foram influenciados pela doutrina Espírita e começaram a adotar algumas práticas do Espiritismo (talvez por acharem que o Espiritismo fosse mais "evoluído do que a Umbanda"), mas sem modificar, inicialmente, sua estrutura ritual, ou seja, não retiraram seus gongás e nem as imagens sincretizadas dos Santos católicos, continuaram trabalhando com o culto aos Orixás só que abolindo o ritual de sacrifício substituindo por comidas e/ou frutas e flores; continuaram com seus atabaques e outros elementos africanos, mas adotaram preces espíritas, leitura de trechos dos livros Espíritas no início das sessões ou no encerramento das mesmas; algumas aboliram total ou parcialmente a utilização de bebidas e de fumo; o trabalho com exus ou foi sendo esquecido, ou continuado, mas sem roupas especiais e com uma dura doutrina encima dessas entidades limitando seu trabalho a sessões reservadas, ou sendo feitas uma vez por ano, ou mesmo só em casos excepcionais.
Outros guias como marinheiros, boiadeiros, baianos ou têm o mesmo tratamento dos exus, ou nem são trabalhados.
Algumas casas adotaram um misto de culto onde fazem a Umbanda e o Espiritismo em uma prática conhecida como "mesa branca". Nessa forma iremos encontrar coexistindo com os guias de Umbanda como preto-velhos, caboclos e crianças, os ditos espíritos de "grande evolução" como médicos, filósofos, pensadores e outros mais notadamente vistos em sessões Espíritas, sem interação com os guias de Umbanda. Já em outros casos encontramos o que é dito como "mesa branca de Umbanda", só que nos moldes de uma sessão Espírita; onde os guias de Umbanda como preto-velhos, caboclos e crianças trabalham na mesa (tudo acontece na mesa e ela passa a ser "o próprio terreiro"), mas não existe presença efetiva de espíritos como médicos, filósofos; às vezes "baixam orientais" para dar passes e fazer curas.
O que podemos notar é que esse misto entre Umbanda e Espiritismo se sustenta em uma linha muito tênue e sua intensidade varia muito. Existindo os casos em que a influência Espírita é só aparente, e não se reflete na forma de culto, indo até àquelas formas em que a Umbanda acaba perdendo terreno e as práticas Espíritas acabam sobressaindo, descaracterizando o culto Umbandista como um todo.
Seriam a Umbanda e o Espiritismo formas tão diferenciadas assim, ou realmente a Umbanda "é uma forma de Espiritismo"? Para responder à pergunta, temos que ver o que a Umbanda tem em comum com o Espiritismo:- A Umbanda é espiritualista; o Espiritismo também; - A Umbanda rende culto a Deus; o Espiritismo também; - Nas práticas de Umbanda ocorrem fenômenos mediúnicos; no Espiritismo também; - A Umbanda aceita a reencarnação e o Karma; o Espiritismo também. - Na Umbanda se faz caridade; no Espiritismo também. - Na Umbanda existe uma preocupação com o próximo; e no Espiritismo também; - A Umbanda existe o auxílio espiritual; e no Espiritismo também; Agora vamos ver no que a Umbanda tem de incompatível com o Espiritismo: - A Umbanda crê na força dos Orixás; o Espiritismo não crê na existência dos Orixás; - A Umbanda tem culto, rito e liturgia; o Espiritismo não tem culto nenhum;
- A Umbanda tem cargo funcional de sacerdote; o Espiritismo não admite cargos sacerdotais;
- A Umbanda tem práticas de corte e/ou oferendas; o Espiritismo não adota esse tipo de prática; - A Umbanda trabalha com elementos materiais, como: velas, ervas, guias ...; o Espiritismo não trabalha com elementos materiais;
- A Umbanda utiliza símbolos magisticos; o Espiritismo não utiliza nenhum símbolo;
- A Umbanda trabalha com magia e no trato de desmanches de trabalhos e similares; o Espiritismo não trabalha com magia ou desmanche de trabalhos;
- A Umbanda trabalha com o sincretismo de formas diversas; o Espiritismo não admite o sincretismo;
- A Umbanda tem Jesus Cristo como a pessoa de Oxalá (uma divindade); o Espiritismo tem Jesus Cristo como um homem, o médium dos médiuns, e um exemplo de médium a ser seguido; - A Umbanda trabalha com guias, espíritos de grande força e saber, divididos em grupos como preto-velhos, caboclos, baianos, boiadeiros; o Espiritismo não admite o trabalho desses espíritos e os têm como sendo espírito não evoluídos;
- A Umbanda trabalha com exus que são considerados guardas, executores das leis kármicas; o Espiritismo considera os exus como obsessores e repudia o trabalho desses espíritos;
- A Umbanda não tem doutrina codificada, admite várias formas doutrinárias diversificadas; o Espiritismo tem sua doutrina codificada nas obras de Allan Kardeque e não admite diversidade doutrinária.
Podemos notar que as diferenças entre a Umbanda e o Espiritismo, e somente colocamos algumas, são muitas e grandes.
Não somos contra quem exerce o sincretismo Espírito-umbandista, mas temos que salientar que a Umbanda, como uma grande religião, tem que seguir seus próprios passos e ser valorizada em sua cultura, sua doutrina, seus ritos, no saber dos seus guias e em suas práticas.
No Jornal A Tarde 24/06/2001 “Sou zelador-de-santo” ENTREVISTA Um dos mais respeitados pais-de-santo do Brasil, Agenor Miranda Rocha emite opiniões corajosas sobre o candomblé. Gladys Pimentel A reabertura dos terreiros de candomblé no feriado religioso de Corpus Christi traz, todo ano, à Bahia um dos mais queridos e respeitados sacerdotes do povo de santo, o oluwô (dono dos segredos) Agenor Miranda Rocha, 93 anos. No último dia 13, ele se dividiu na tríplice jornada de visitar o Gantois, a Casa Branca e o Ilê Axé Opô Afonjá.
Poeta, intelectual, escritor, cantor lírico e educador, ele é o responsável pelo jogo que indica os representantes na sucessão para as grandes casas de candomblé da Bahia. Foi seu jogo que nomeou mãe Stella, para o Opô Afonjá, e Tatá, para a Casa Branca. Pelo apartamento de pai Agenor, no Rio, passam, diariamente, dezenas de pessoas, incluindo artistas globais e políticos, que confiam à vida ao seu jogo de búzios.
Natural de Angola, pai Agenor veio para a Bahia com 5 anos de idade. Ainda criança, recebeu, de Eugênia Ana dos Santos, mãe Aninha, a vocação para o candomblé. A vida do oluwô já foi registrada em um livro, de Diógenes Rebouças Filho (Pai Agenor, editora Corrupio, 1997), e, agora, será tema do documentário Um Vento Sagrado, com roteiro e direção de Walter Pinto Lima e Carlos Vasconcelos Dominguez (este, morto no ano passado).
Nesta entrevista, concedida no último dia 16, antes de voltar para o Rio de Janeiro, pai Agenor fala sobre sua concepção de candomblé, critica o sacrifício de animais, o jogo cobrado e a grande exposição que a religião ganhou atualmente.
P - Quando e como surgiu sua vocação para pai-de-santo? R - Não sou pai-de-santo, sou zelador-do-santo. O santo é que é meu pai. Eu acho esta nomenclatura (pai-de-santo) muito errada. Eu zelo.
P - Qual é a diferença? R - Se eu sou pai-de-santo, o santo é propriedade. Para mim, os orixás são fragmentos da natureza. Cada orixá tem encantado um fator natural: Iansã, no vento; Iemanjá, no mar; Oxossi, nas matas, caçando; Ogum, desbravando estradas. Então, como eu posso ser pai deles? Quero que me chame de zelador. Pai, não. O zelador trata dos orixás, faz, todas as semanas, uma obrigação, que se chama ossé. Fazer ossé aos orixás é limpá-los, cuidá-los.
P - Como o senhor vê, então, a utilização da nomenclatura pai-de-santo pelo candomblé? R - Eu já encontrei isso quando fiz santo. Eu é que não me sinto bem em dizer que sou pai-de-santo. Para eles (algumas pessoas do candomblé), é uma glória dizer isso.
P - Voltando à sua vocação para zelador-de-santo, quando e como ela surgiu? R - Eu tinha 5 anos. Na verdade, não fui eu quem procurou o candomblé, o candomblé é que me procurou. Minha família era toda católica, apostólica, romana, nunca “assistiu” a um candomblé. Nasci em Ruanda, capital de Angola. Vim para a Bahia com 5 anos. A vocação surgiu desde que eu nasci. Um africano disse isso para minha mãe antes do meu nascimento. Ela não acreditou, mas ele acertou em tudo. Ela me esperava para outubro, ele disse que era para setembro. Eu nasci no dia 8 de setembro de 1907. Disse que eu ia trazer uma mancha vermelha na cabeça. Eu trouxe. Quando chegamos aqui, na Bahia, eu fiquei para morrer. Os médicos desenganaram-me. Minha mãe Aninha, a que fundou o Axé Opô Afonjá, fez o jogo e disse que eu não tinha nada, que era o orixá que iria ser feito.
Fez-se o orixá, em 1912, e eu estou aqui.
P - O senhor ocupa um dos mais altos postos no candomblé. Como atua um oluwô? R - A mando dos orixás. Sem alarde e sem vaidade. Na realidade, o magistério é que foi minha carreira. Trabalhei no magistério 47 anos, e saí com pena. Eu nunca vivi do santo. Eu vivo para o santo. Até meu jogo de búzios, nunca cobrei. Não cobro, porque eu duvido um pouco dessa caridade cobrada. Ela deixa de ser caridade quando é cobrada. Eu sou feliz, os orixás me deram essa missão, mas me deram também uma profissão. Então, não há necessidade de eu cobrar.
P - Nesses seus 93 anos, houve algum fato, alguma experiência que o marcou? No candomblé, por exemplo? R - Diversos. Teve um episódio na minha casa, no Leme, no Rio, em 1947. Eu sonhei com Xangô me dizendo que estava segurando a casa até eu me mudar, pois a casa iria desabar. Eu mudei às 5 horas. Às 7 horas, a casa desabou. Então, eu tenho que ter amor aos orixás. Não posso vendê-los, me aproveitar.
P - Na Bahia do Senhor do Bonfim, o sincretismo religioso está muito presente. Qual a sua opinião sobre o sincretismo, considerando que o senhor é um zelador-de-santo, filho de pais católicos? R - Não há crime nenhum no sincretismo, porque, se não fosse o sincretismo, não haveria candomblé hoje. Essa é que é a verdade. As mães-de-santo e os pais-de-santo não querem o sincretismo. Mas tem que haver. Se não fosse o sincretismo, como é que o candomblé iria sobreviver até hoje? Teria morrido. Agora, eles não gostam quando eu falo isso. Mas eu falo o que sinto. Não falo pelos outros, falo por mim.
P - O senhor é devoto de Santo Antônio e de São Francisco de Assis e vai sempre à cidade de Assis, na Itália, venerar São Francisco. Como é que o senhor lida com isso dentro do candomblé? Existe preconceito? R - Se há preconceitos, é com eles. Eu sou eu. Nunca tive conflito. E, agora, tem mais uma coisa: eu sou do santo, católico e espírita. Assim como na família: nem todos são iguais, mas convivem bem. Não é isso? É uma questão de fé.
P - Qual a diferença do candomblé do passado para o candomblé atual? R - Bom, eu costumo, numa frase, mostrar: eu sou do candomblé de morim (pano de algodão muito fino e branco). Hoje, é candomblé de lamê (plumas, lantejoulas). Parece uma escola de samba.
P - O sacrifício de animais, um dos ritos mais comuns e simbólicos do candomblé, é contestado pelo senhor. Por quê? R - Acho que é uma maldade. Os orixás, que são fragmentos da natureza, precisam de sangue? Matar os animais que representam à natureza? Matar, além de tudo, com uma faca, devagarinho, com cantiga, até chegar em uma palavra para tirar a cabeça do bicho. Não dá! Sou contra a matança. Na vida, tudo evolui com o tempo. O candomblé podia ter evoluído um pouquinho, ser mais moderado. O candomblé, hoje, é um luxo.
P - Quanto à humanidade, que perspectivas há para ela diante das espécies em extinção, do desmatamento e da poluição ambiental? R - Desse jeito, vamos chegar ao caos. Destruindo a natureza, o homem acaba consigo mesmo. As pessoas deveriam seguir a evolução natural da Terra. Não deveriam ter tanta inveja, tanta sede de poder. Da sede do poder, nasce a inveja, que é um sentimento muito negativo. Destrói uma pessoa. Aconselho às pessoas a não terem inveja e a viver, cada um, com o que Deus lhe deu. Se eu não tenho inveja, quero que as pessoas subam e não que caiam. Cada um tem seu valor.
http://www.atarde.com.br/materia.php3?mes=06&ano=2001&id_materia=3157 Assim pensam os grandes mestres que não se negam a falar a verdade e carregam em seu coração, ética, moral e amor. E eu assino em baixo tudo o que ele disse. Realmente o sincretismo não destrói os cultos afros, mas o tempera o embeleza ainda mais. Desde que não aja bagunça. Não podemos ver um preto-velho como um espírito atrasado só porque alguém assim o definiu pela forma que ele adota, ou pelo trabalho espiritual que ele exerce (suas mirongas).
Devemos ter ouvidos para tentar entender as mensagens que são emanadas pelos guias de Umbanda. Eles têm mensagens lindas, maravilhosas, e não devem ser menosprezadas, só porque saíram da boca de um espírito que foi escravo, e não de um grande médico, filósofo ou intelectual.
Carlinhos Lima - Astrólogo, Tarólogo e Pesquisador
30/1/2010
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