O governo brasileiro tem aplicado cortes no pagamento de bolsas a cientistas no Brasil. A Sputnik Brasil ouviu um especialista para analisar os efeitos da medida.
A Ciência não vai bem no Brasil e isso está se refletindo nas duas principais agências de fomento do país.
A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) mantém congeladas pelo menos 8.692 bolsas de mestrado e doutorado, enquanto o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), já não sabe se conseguirá pagar cerca de 80 mil bolsistas até o final do ano. Ambas as instituições não têm garantias de que conseguirão pagar novos bolsistas a partir de 2020.
O impasse tem sido descrito como um "apagão" na Ciência brasileira e preocupa especialistas. Alguns deles avaliam que a situação deve impulsionar a saída de cientistas do Brasil para trabalhar em instituições estrangeiras.
Para analisar a questão, a Sputnik Brasil entrevistou Rodrigo Lins, jornalista, escritor e professor universitário. Lins realiza uma pesquisa acerca da evasão da força de trabalho qualificada no Brasil.
O professor, que reside nos Estados Unidos, estuda a chamada "internacionalização de carreiras profissionais" através de dados da Receita Federal.
Os dados mais recentes da Capes, mostram que em 2015 49.735 profissionais deixaram o Brasil em busca de oportunidades em universidades estrangeiras. Os principais países de destino foram os EUA, com 17.517 pesquisadores, a França, com 4.265 pesquisadores, e a Alemanha, com 4.136.
Apesar de não haver números divulgados sobre 2019, Lins acredita que a "fuga de cérebros" aumentou".
"A gente ainda não tem uma estimativa exata de quantos pesquisadores vão retornar ao Brasil após esses cortes. O que a gente sabe é que aumentou o número de profissionais presentes no exterior", afirma o professor em entrevista à Sputnik Brasil.
Rodrigo Lins também explica que geralmente esses profissionais buscam formações temporárias com perspectiva de retorno.
"O que a gente sabe é que de fato esses cortes vão impactar nessa volta. Vários países de primeiro mundo oferecem vistos para que profissionais altamente qualificados permaneçam legalmente, trabalhando legalmente no país", conta o pesquisador.
Países ricos querem pesquisadores brasileiros que escolham ficar
O pesquisar Rodrigo Lins explica também que os países ricos tem meios para segurar os pesquisadores e que a situação da Ciência brasileira deve influenciar nesse processo.
"Esses profissionais que já estiverem um pouco insatisfeitos com essa questão de sucateamento do ensino superior, com essa questão econômica, vão considerar esse retorno, vão adiar esse retorno, porque eles têm a opção de ficar se eles quiserem. E é óbvio, os países de primeiro mundo não vão dispensar essa competência, esse talento internacional", afirma.
O professor universitário também acredita que o cenário político brasileiro pode pesar na decisão de pesquisadores de deixar o Brasil de forma permanente.
"Além dessa questão dos cortes, pontualmente, a gente tem um cenário de insatisfação muito grande dos profissionais brasileiros, sobretudo os profissionais ligados ao meio acadêmico, com relação a essa condução política", aponta.
Para o professor, essa realidade de corte de bolsas prejudica a ciência brasileira, uma vez que se investe dinheiro em profissionais que podem deixar o país devido à condução da Ciência no Brasil.
"Essas bolsas não podem ser consideradas um gasto, elas tem que ser consideradas um investimento", conclui.
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