Ciganos e o Taro.
Antes de os ciganos começarem a instalar seus acampamentos pelo centro-oeste da Europa, em meados do século XV, nobres e ricos de origem italiana e francesa já encomendavam aos artistas de seu tempo, a peso de ouro, coleções das 78 cartas, que hoje conhecemos por Tarô.
A ciência milenar das conjecturas, conhecida pelos sacerdotes das mais antigas nações do mundo. E dos adivinhos e profetas de todas as antigas religiões, depois passando para o domínio de todos os que, desde então, até nossos dias, se tem lembrado de predizer o futuro de uma pessoa ou da sociedade em geral, pela simples inspeção de coisas de nenhuma importância. Os arúspices, os auspícios, os adolites, os agouros e os druidas, tão decantados por Schiller, todos liam o porvir no vôo e canto das aves. Foi daí que veio a Ornitomancia e a Eletriomancia.
A adivinhação pelos sonhos conhecida pelo nome de Oniro-crítica, que é um dos ramos mais importantes da ciência das conjecturas, provavelmente veio do Oriente, e deve ser posta a par da astrologia ou astronomancia em antiguidade. Os árabes, os povos da antiguidade procuravam o seu futuro no firmamento e muitos homens célebres das eras passadas, considerava a astrologia como arte respeitável.
Eram muitos objetos de que os antigos se serviam para conhecimento do futuro. As varinhas os ramos, a peneira, o ar, o fogo, o fumo, a água, a luz, a cera, as plantas, as arvores, os livros, as mãos, os espelhos, anéis, animais, peixes, pedras, etc., tudo servia para explicar o porvir do individuo que consultava o adivinho. como os cometas e os eclipses para marcar grandes calamidades no futuro da humanidade.
A Cartomancia, ou adivinhação pelas cartas de jogar, é a mais moderna, porque antes de Carlos V, ainda não se haviam inventado as cartas. Este ramo da ciência das conjecturas, ainda hoje praticado por muita gente, e sinceramente acreditado por muito mais, é o grande recurso das namoradas, por ciúmes ou desconfianças, ou pelas saudades do objeto amado. A cartomancia praticava-se com 32 cartas ou como jogo de setenta e oito. Hoje, alguns usam apenas quarenta cartas no baralho comum. Já no chamado “Baralho Cigano”, usam-se 36 cartas.
Para se criar esse baralho os criadores se inspiraram nos vários elementos mágicos e fenômenos da Natureza.
Os ciganos, porém, associaram seu nome às cartas de jogar. A razão para isso é às mulheres ciganas incluírem entre suas habilidades a leitura de sorte, em especial a quiromancia, a predição pelas linhas das mãos. Para o nômade, que carrega poucos pertences, é um recurso prático: não exige instrumentos especiais nem providências complicadas. Basta a palma da mão do consulente. À medida que se desenvolveram as técnicas de impressão dos baralhos, os jogos se tornaram mais acessíveis e muitos ciganos passaram a utilizar as cartas para ler a sorte, já que são pequenas e simples de manejar.
Não existem indícios históricos que indiquem os ciganos como autores do baralho. Entre suas habilidades mais notáveis não se incluíam as artes plásticas nem a escrita e, muito menos, as técnicas de impressão no papel. Alem disso eles possivelmente não tinham um conhecimento profundo sobre esoterismo e si valiam apenas da mediunidade sensitiva de alguns de seus membros. No entanto, cabem eles muito bem como personagens dos trunfos. Possivelmente ao se familiarizem com o tarô utilizaram o trabalho habilidoso de algum artista da época pra modificar as cartas e adapta-las a cultura cigana.
A figura do cigano, no cenário europeu do século XVI, pode ser mesclada à dos peregrinos, monges-viajantes, ambulantes, andarilhos e nômades. Espíritos inquietos, aventureiros, que não conseguem permanecer em suas comunidades de origens. Cabem todos eles, muito bem, como representantes do arcano sem número (0 ou 22).
O Louco e o Mago podem perfeitamente representar dois momentos do andarilho ou nômade, monge ou cigano. Na estrada: trouxa sobre os ombros. Nas feiras ou nas ruas montam o espaço de encenação, uma combinação fascinante de habilidades e manobras ocultas. É o mágico, hábil, astuto, enganador e muitas vezes trapaceiro. Tudo isso se encaixa com a grande habilidade de sobrevivência do cigano, o qual tem que tirar seu sustento com muita manipulação e arte de convencimento.
Sempre inventando artifícios para garantir a sobrevivência, são os saltimbancos, prestidigitadores, artistas, andarilhos e nômades de todas as espécies a circularem de vila em vila, levando as novidades. Entre eles, os ciganos.
Mesmo pesquisando com toda paciência os livros disponíveis e a Internet não encontraremos exemplares históricos de baralhos que pudessem ter sido criados ou impressos por ciganos. No entanto a arte de predizer o futuro pelos ciganos não é coisa nova. Ela vem desde o tempo em que eles vagavam no deserto do Oriente Médio. Muito ciganos descendentes dos Mulçumanos utilizavam a borra de café para ler a sorte. Interpretar os desenhos que se formam nas xícaras de chá, a Teimancia, era um habito que começou na Antiguidade e pode ter sido um método utilizado anterior aos baralhos. Depois de ajudar imperadores que sempre recorriam aos poderes deste oráculo, ele se transformou no passatempo predileto dos nobres, os únicos que podiam consumir chá, uma bebida exótica e cara nos tempos antigos. Depois com a difusão do café pelo mundo, este oráculo estendeu-se à nova bebida, ganhando também um novo nome, a cafeomancia.
Algumas lendas e estudos ocultos atestam que foram os ciganos que andavam no deserto que tiveram encontros noturnos com certas odaliscas dançarinas (o Diabo), o qual ensinou a eles a dança do ventre. Possivelmente também teriam sido ensinadas a eles as artes de prever o futuro. Entres estes métodos o da cartomancia usando os baralhos. A quase totalidade dos anúncios que vemos hoje nos sites e folhetos sobre tiragens e baralhos ciganos, utilizam na verdade as 36 cartas do Tarot Petit Lenormand, uma simplificação que a cartomante francesa mandou redesenhar de apenas parte dos arcanos menores originais.
Revelações ocultas atestam que esse formato já existia e só estava ocultado. Então num certo Lenormand teve uma visão subconsciente e relançou o baralho de 36 cartas. Não há como comprovar isso, mas também não podemos descartar essa possibilidade.
Apenas nas últimas décadas foram criados baralhos intitulados “ciganos”, que consistem, em sua quase totalidade, no redesenho de imagens para as 36 cartas do Petit Lenormand, como pode ser conferido abaixo.
Na profusão de baralhos inventados e reinventados nas últimas décadas, os temas ciganos são mais raros na Europa e um pouco mais comuns nas Américas. No entanto, boa parte das edições é regionais, modestas, difíceis de serem levantadas, mesmo com a ajuda da Internet. Ao pesquisar esses baralhos o que eu posso perceber é que é menos profundo do que o taro tradicional e se referem á fatores corriqueiros da vida das pessoas. Mas gosto muito dessa simplicidade. E para quem tem uma sensitividade muito aguçada eles podem ser muito eficazes. Apenas um tarô europeu, redesenhado com motivos ciganos, foi bem divulgado: Zigeuner Tarot ou Gipsy Tarot Tsigane, de Walter Wegmüller. Ele deixou para trás as reduções de Lenormand e reproduziu o tarô completo, com os 22 arcanos maiores e os 56 menores. No entanto, eu acho que tudo que venha a contribuir com o aprendizado do ser humano sobre o conhecimento divinatório tem grande importância. Mas gosto mais do estilo de Lenormand, pois os arcanos se encaixam bem com a descrição astrológica dos 36 decanatos do Zodíaco e serve muito bem para consultas que se referem aos problemas simples.
Na verdade o baralho, que se tornou um instrumento, um suporte para os sensitivos e videntes exercerem seus dons. E por isso pode ser muito bem aproveitado se for respeitado e usado com prudência. Pois, existem por certo inúmeros relatos dignos de nota sobre cartomantes - ciganas e não-ciganas - que, na falta de tarôs mais caros, utilizavam e continuam a utilizar as simples cartas do baralho comum. Manifestam talentos que não dependem necessariamente do tarô. Essa pesquisa tem intuito de ilustrar o tema e ressaltar a aura mágica que cerca a cartomancia em geral e as práticas ciganas em particular, tiveram um resultado inesperado. Corroboram de modo surpreendente o ponto de vista que sustenta o Tarot como anterior à chegada dos ciganos na Europa e que eles, na verdade, foram simplesmente usuários da cartas. Ou numa hipótese melhor, eles podem ter trazido elementos novos a eles revelados por entidades do astral.
Carlinhos Lima – Astrólogo, Tarólogo e Pesquisador.