A dor de amor é um sentimento de limite, é física e é psíquica, por isso dói. O amor é um afeto matriz, dele surgem todos os demais afetos, se o amor não levasse à sua dor, haveria a loucura e a morte do Ser. A dor é nossa recuperação, nossa salvação do limite,onde estávamos perdidamente sendo o outro, ela é o juntar forças para sobreviver em torno de si mesmo, reunir-se novamente. Todo mundo ama, ninguém existe sem amor, toda criatura que surge no mundo interage e assim ama e sofre a dor do amor.
O amor é a presença do amado, ou da amada como fantasia no inconsciente, mas a palavra fantasia pode parecer que seja uma ilusão ou que exista ainda outra forma de amar, mas não, nem a fantasia é ilusão e nem existe outra forma de amor. Esta presença inapreensível do outro em nós é que é o amor, e é dor quando esta pessoa amada nos deixa, sai de dentro de nós, mesmo por instantes breves. Esta dor pode ser insuportável quando este outro sai definitivamente de dentro de nós pela morte ou separação, o vazio deixado pelo amor perdido arrasta o eu que se percebe, mas se percebe pelos seus atos falhos e pelas suas defesas, por isto dói.
Aquele que amamos é um Ser exterior porque existe como corpo e ao mesmo tempo como uma imagem, que tenho dela dentro de mim, é um duplo, um externo, de carne e osso, como presença, com modos próprios, jeitos próprios, e outro como minha fantasia dele, dentro de mim. É este envolvimento exterior com o outro que me faz tê-lo em mim cada vez mais, mas este envolvimento é sempre voluntário, pois me deixo levar ao outro e admito isto até certo ponto, quando o outro já está construído dentro de mim e sua imagem em mim, já é parte de mim.
Voltando ao tema do outro dentro de mim, como meu eleito ou eleita, ela é fantasia porque não é igual ao Ser exterior, mas não é irreal, pois todas as relações são assim, não existe uma relação de amor somente com o objeto de meu amor externo, o real, ela se dá primeiro pela minha fantasia. É por isso que as pessoas as vezes ficam marcadas para sempre, pois quando amamos, buscando o amor em varias dimensões possiveis, tanto no fisico como na mente e no espirito.
O amor como o outro eleito dentro de mim existe como fantasia, na forma imaginária, simbólica e real. Apesar da forma imaginária ser a principal, ela se alimenta da forma real e tira dela sua força e nutrição, sem a presença física do amado não existiria um centro de gravidade para minha fantasia e minha relação seria doentia, virtual, o Ser seria acometido pela infelicidade e sofrimento, não de amor mas de impotência, incapacidade de ter alguém de carne e osso. Tal desordem pulsional colapsaria a psique, que descontrolada se tornaria compulsiva nesta busca.
Um corpo externo é capaz de produzir desejo, porque também é ativo de desejo, o outro externo produz em mim o impacto de sua excitação, ele deseja a mim e portanto eu o desejo, seu corpo tem detalhes que somente ele possui, tem modos de ser, e se mover que me cativam, tem formas de me tocar e cativar, enfim uma série de detalhes que são indispensáveis para mim, ou melhor, para as minhas fantasias.
Um "mestre" na arte de amar, o qual é muito raro de se encontrar, é aquele que sabe retribuir, que se preucupa com o proximo e que tenta passar o amor sem a companhia da dor. É um ser verdadeiro, sincero e sabe aproveitar o melhor do amor. Sendo que isso só é possivel com o uso da sinceridade.
Sem objeto o eu não pode ser autoconsciente, ele não pode ser, sem um isso . Sempre a autoconsciência é a união com o objeto, sendo o eu, naquele instante o objeto desejado. Esta união é yoga segundo Patanjali; esta união é maithuna segundo o tantra; esta união com o outro é a fonte das pulsões segundo a psicanálise. O tantra avança mais que o yoga e que a psicanálise porque prevê a união e a separação... Quando se fala aqui em objeto, fala-se que o amor se materializa em ações e atitudes. Essas ações se materializa, na retribuição do amor, na demonstração verdadeira dos sentimentos. Por isso todo aquele que se perde ou se mira apenas num amor fantasiado dificilmente será feliz.
O vinculo entre sexo e amor está aberto até hoje na nossa sociedade, é este vinculo que o "sexo tantrico" reata, segundo nossa ontologia, nossa formação física e psíquica. Sem este vinculo todos somos portadores da neurose ordinária, comum, a ferida narcísica da sexualização dos nossos pais a voltar e exigir resolução. Falar em transcendência sem o vinculo entre sexo e amor resolvido é manipular onipotentemente a realidade, viver na alienação. Reagir a esta falta é justamente criar um vinculo entre sexo e amor, restabelecer a ordem natural das coisas, buscar no sexo um reatamento e não mais uma separação.
Carlinhos Lima - Astrologo, Tarologo e Pesquisador.
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