Hécate mulher perigosa! A Terceira face de Lilith.
Hécate
também é uma Titânia, ou seja, uma divindade pré-olímpica. Sua origem é
muito discutida, mas parece ser uma variação da egípcia HEKET ou HEQ a
matriarca tribal no Egito pré-dinástico. Na Grécia, seu culto começou na
Trácia (a parte nordeste do país), primitivamente associada à Lua.
Embora pouco citada nos livros de mitologia (que, normalmente, só tratam
dos deuses olímpicos), hoje se sabe que seu culto era muito amplo e
generalizado nas classes populares, geralmente com o título de "Kratay"
ou "Eurybia" que significa DEUSA FORTE. Na mitologia grega mais recente,
Hécate aparece tão poderosa no céu como na terra, honrada e temida até
pelo próprio Zeus.
Segundo
uma lenda, Zeus estabeleceu um decreto que dizia que "cada vez que
alguém deita uma oferenda na terra sem ofertá-la a nenhum deus
específico, essa oferenda é de Hécate". Isso só demonstra que ele
reconhecia que, em princípio, tudo que está sobre a Terra é território
dessa deusa. Outro fator interessante é que, diferentemente de outras
deidades antigas, Hécate foi absorvida no panteão clássico grego com
pouca alteração - provavelmente pela força de sua simbologia e culto no
costume popular. Seja como for, tudo isso indica tratar-se de uma deusa
muito antiga e muito respeitada - muito provável, uma remanescente das
primitivas "Deusas Tríplices", cultuadas antes do estabelecimento de
qualquer panteão organizado. Provas disso é seu principal título HÉCATE
TRÍVIA e sua forte ligação com a noite e com a Lua - o que a liga aos
antigos cultos da Europa Central e da Ásia Menor.
Provavelmente,
Hécate é a corporificação grega da Deusa Tríplice original. Há quem
defenda a tese de que Hécate é a face Anciã dessa Deusa antiga, havendo
as faces Donzela e Mãe sido absorvidas completamente por outras deusas
tais como Ártemis e Deméter, respectivamente. Além disso, seu local de
culto são as encruzilhadas de três caminhos; dizia-se que ela ficava
nesses pontos, olhando para cada um deles com uma das faces. Aqui
percebemos claramente uma personificação da Pombagira do panteão
umbandista. Sendo está à senhora dos caminhos uma das manifestações da
Lilith ou Ancestral da Bombogira. Em seu aspecto luminoso, Hécate foi
associada a Apolo (o Deus da Luz). Os mitos gregos mais antigos atribuem
a ela a concessão de prosperidade material, o dom da eloqüência nas
assembléias políticas, a vitória nas batalhas e nos jogos; era ela,
também, que promovia o aumento dos rebanhos e favorecia a boa pesca.
Interessante notar que Hécate era considerada a PROTETORA DA JUVENTUDE
atributo associado à Ártemis e Apolo (os gêmeos). E vale lembrar que um
dos epítetos de Apolo é "Hécatos", tornando-o uma versão masculina da
Grande Deusa.
Seu
aspecto sombrio liga-se ao fato de ser uma deusa lunar e, portanto,
associada à noite. Daí sua representação artística a apresentar portando
tochas e com um vestido feito das estrelas, cuja luz mostrava o caminho
dentro da vasta escuridão das nossas origens e da profundeza de nosso
ser interior. Por sua natureza ser originariamente misteriosa, os gregos
helênicos enfatizaram seus poderes destrutivos à custa de seus poderes
criativos, até que Hécate fosse apenas invocada como uma DEUSA DO
SUBMUNDO. Torna-se, então, a SENHORA DOS MORTOS, líder da "Caçada
Selvagem". Nesse aspecto, é acompanhada por "fantasmas", corvos, corujas
e, sobretudo, cachorros que uivam lugubremente para a Lua; suas lendas
falam que ela passa pela terra, com seu séqüito, ao pôr do sol para
recolher os mortos daquele dia. Por isso, muitas vezes também é
representada com um athame ou uma foice (em seu cinto ou na mão), usado
para cortar as "ligações" com o mundo dos vivos.
Como
Prytania, Invencível Rainha da Morte, Hécate tornou-se guardiã do
submundo. Esse aspecto foi tradicionalmente associado à Lua Nova
(particularmente na sua face de Lua Negra). Como DEUSA DA MAGIA E DOS
FEITIÇOS, ela manda sonhos proféticos ou pesadelos à humanidade. Sua
presença é sentida nos túmulos ou nas cenas de assassinato, onde preside
as purificações e expiações. Como sua semelhante Kali, na Índia, Hécate
é SACERDOTISA DOS FUNERAIS, conduzindo seus ritos nos locais de
enterros e cremações, assistindo e auxiliando na liberação dos
recém-mortos.
Arquétipicamente,
Hécate é uma figura primordial nas camadas mais antigas do inconsciente
humano. Sua simbologia nos remete ao princípio dos tempos, como filha
de Nyx, a Noite Antiga. Hécate é A GUARDIÃ DOS MISTÉRIOS PROFUNDOS DO
INCONSCIENTE que acessa a memória do inconsciente coletivo e das forças
primitivas. Do mesmo modo que lidera a Caça Selvagem, Hécate conduz os
mortos e os vivos aos melhores caminhos (tocha na mão). Ela é a SENHORA
QUE GUIA. Preside os nascimentos, por isso é chamada "Protiraya", a
SENHORA DOS PORTAIS, sendo a vagina o portal do ingresso nesta vida.
Assim, é invocada durante os partos como condutora ao renascimento,
junto com ÁRTEMIS (que são parteira e protetora das crianças).
Considerada
como a Deusa das deusas e Rainha das Bruxas, Hécate preside todos os
rituais mágicos, profecias, visão, o nascimento das crianças, morte, o
submundo e os segredos da regeneração. A velha mulher curvada pelo peso
dos anos, a curandeira, a bruxa; aquela que conhece todos os sintomas do
corpo e da alma humana. Esse é seu arquétipo. Em seu nível mais elevado
e positivo é Nanã Buruku do Candomblé.
A
natureza profética de Hécate sobreviveu na Noruega e na Suíça, como A
VELHA, sabia mulher falante, que viajava pelas fazendas e dizia aos
moradores dos campos seu futuro. Mas com o advento do domínio patriarcal
a Deusa diminui sua influência e grandeza. Os poderes da sábia anciã
foram reprimidos e mais tarde emergiram como projeções torturadas e
distorcidas do patriarcado, classificadas como bruxaria perigosa e magia
negra.
Hécate
é toda potencial - o potencial daquilo que ainda não é, como uma
semente que germina, subterrânea. Ela é mágica, caótica, imprevisível.
Deve ser invocada quando todas as coisas sólidas e pretensamente seguras
desabam, e é preciso pensar em novos sonhos e possibilidades.
Ela
é SENHORA DO CALDEIRÃO DAS TRANSFORMAÇÕES, onde residem todas as
possibilidades. Um trabalho com Hécate pode ter mil facetas justamente
por isso: pode-se trabalhar desde os entraves na sua vida financeira,
até seu caminho espiritual, suas capacidades mágicas e oraculares até
pedir a intercessão dela em um caso de morte ou nascimento difícil; pode
pedir que ela oriente você ao melhor caminho nas encruzilhadas da
vida... O mais importante pra nós percebermos é que tudo evolui, muda
conforme a adaptação carmica e a necessidade de transformação do
universo. Assim nem tudo possui a mesma forma, característica e nem a
mesma natureza pra sempre. Às vezes o mal se torna bem, anjos caem e
demônios sobem. Tudo tem um porque e uma necessidade para cada momento.
Entidades
que trabalhavam para o mal há séculos atrás, hoje trabalham para o bem.
Do mesmo modo espíritos que trabalhavam para o bem hoje fazem o mal.
Assim definir entidades com uma única forma, além de erro é uma
limitação que impede de evoluirmos. Quando se define um orixá quando
tendo tal característica, um elemento ou uma aparência, esta limitando o
raciocínio, o qual poderia nos levar a um conhecimento maior. As forças
da natureza têm muitos nomes, formas e apresentações simbólicas. Às
vezes ilimitadas. Assim como a Alma Humana!
Carlinhos Lima – Astrólogo, Tarólogo e Pesquisador.
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