QUIMBANDA
Um
grande problema para a desmistificação da Umbanda é a colocação correta
da Quimbanda e de seus espíritos, os exus e as pombas-gira. Tem gente
que diz que o exu é o Diabo. Essa estúpida assertiva, muitas vezes até
cometida por umbandistas, tem custado muito para essa religião. Em todos
os momentos que falamos da Umbanda não dispensamos a ladainha que a
Umbanda é nova, não tem – e espero que nunca tenha, nenhuma codificação e
nenhuma regra existente para diferenciar o certo do errado. Errado na
Umbanda só o que fere a moral, o bom senso, a ética ou a cultura. Por
isso divulgamos o entendimento da Umbanda-Astrológica.
O
exu não é o agente do mal. Ele é a entidade polêmica, misteriosa e
distorcida da umbanda. O que se sabe na verdade é que o Diabo muitas
vezes se passa por Exu para confundir e manipular as pessoas. A imagem
de exu, na crença popular, é uma figura demoníaca, moldada em gesso de
cor vermelha, algumas ainda possuindo chifres e pés de animal.
Absurdamente, é assim que ele é cultuado. Mas a força da nossa intenção
transforma essas imagens em elementos de ligação com esse mundo
maravilhoso – dos exus. Será que por trás dessas figuras mal feitas e de
péssimo gosto artístico não existe um engodo espiritual para esconder
suas verdadeiras identidades? Vamos analisar e tentar descobrir pelo
raciocínio inteligente quem eles são.
A
umbanda é brasileira, baseada em fatos e personagens na época do
descobrimento, tendo nos caboclos, nossos ameríndios, a figura mandante,
seguido do preto-velho, simbolismo da raça africana escravizada pelos
europeus e as crianças que são os espíritos de qualquer nacionalidade
que tenham desencarnado na idade da inocência. Fecha-se o triângulo da
Umbanda: caboclos, pretos e crianças. Sabendo serem essas as entidades
que compõem a umbanda, não resta para á Quimbanda, outro tipo de
espírito senão os originários da Europa, no caso os nobres, príncipes,
lordes, almirantes, eclesiásticos, figuras letradas e culturalmente
avançados. Isso aconteceu através da evolução dessas almas pela
reencarnação. Se os europeus invadiram nosso país, mataram nossos
índios, escravizaram os africanos e cometeram toda espécie de mal,
dentro de seus resgates cármicos podem, espontaneamente, terem aceitado a
situação de serviçais àqueles que, em vidas anteriores, foram seus
carrascos. A lógica desse argumento baseia-se no fato que seria estranho
e de difícil aceitação um príncipe apresentar-se em um terreiro de
umbanda, carregando um tridente, afirmar estar morando no cemitério,
aceitar farofa, azeite de dendê, charuto e cachaça como oferenda, e
ainda receber ordens de um índio ou de um escravo. O melhor é se
esconder atrás de um comportamento atípico às suas nobres origens.
Os exus têm histórias muito bonitas, interessantes e que vale a pena conhece-las.
Falar
de exu não é uma fácil tarefa, porém, inquirir, pesquisar, procurar sua
origem e sua finalidade é o direito de quem quer aprender. Há
uma nuvem cobrindo a distância do seu princípio até nossos dias. Nesta
caminhada lenta da humanidade ganhastes muitas formas e fostes batizados
com inúmeros nomes: no Jardim do Éden, eras uma serpente que introduziu
o primeiro pecado no seio da humanidade; eras o agente mas não o mal,
pois o livre arbítrio nos dá o direito de optar. De Adão e Eva
proliferou a humanidade e, com ela, os seus deuses, seu medo e sua
curiosidade.
Para
os fenícios, exu foi Molock, espírito tenebroso, cujo interior era uma
fornalha ardente onde os seus seguidores depositavam suas oferendas;
para a Pérsia de Zoroastro, atendias pelo nome de Arimânio, espírito
angustiado e vingador!...Para o egípcio, ele era Duet, um guardião que
castigava e punia para, depois de punido, ser entregue para o Deus da
Luz e Serenidade; ele era a ligação entre o homem e a mente, a morada de
Osíris que é o Deus do amor e da criação. No Egito, ele também era
Tifon ou Aprites; a China milenar lhe deu o nome de Digin; Ravana para o
hindu; os escandinavos o chamavam Azalock. Em cada povo uma
personalidade e uma vibração diferente. Para o nosso índio brasileiro,
ele atendia por vários nomes e várias atuações: Cairé é um fantasma que
aparece na lua cheia para punir os maus; Catiti é outro, só visível na
lua nova e atrapalha a pesca. Jurupari é o mau espírito que traz
pesadelo; Curuganga oficia como assombração. Até então, ele com
múltiplas funções e personalidades, não era mais que uma energia, uma
força. Ele até já foi visto e sincretizado como guerreiro, como um
homem. Para o mau artista, uma grotesca obra. O hebreu o deu novas
formas e, na pia batismal, recebestes os nomes: diabo, demônio, Lúcifer.
Pelo
pincel do pintor ou o formão do escultor, na metamorfose dos interesses
de uma religião que amedronta e não esclarece, o fizeram um monstro...
Como monstro, ele defendia com maior eficácia os interesses econômicos
de seu criador.
O
diabo é um rival de Deus, um anjo rebelde, Satanás e falsário que
tentou Eva e perdeu Adão. Tentou Caim e promoveu o assassinato de Abel;
tentou Jesus, no monte e levou Judas à traição, Jesus não cedeu à sua
tentação, prova eloqüente do direito de optar; respeito sagrado ao livre
arbítrio do homem.
Sabemos
que o índio e o negro não conheciam um rival de Deus. Não há um
concorrente das Leis Divinas!... Um diabo, um Satanás... Há sim, uma
corte de seres inferiores que, por isso mesmo, estão a serviço de seres
superiores, aos quais obedecem e servem sem contestar.
Na
magia do negro, Exu é um Deva um Orixá... É um mensageiro, o guarda, o
policial, o moço de recado que vive na rua, orientando, servindo de
intermediário entre o Orixá e o homem. Mas que a Quimbanda não pode
também afirmar que Exu seja um espírito de luz ou um ser iluminado. A
magia de Exu é em sua essência muito perigosa e sua manipulação sem
controle ou preparo pode ser muito destrutiva. Exu é iluminado quando
evoluído através de varias encarnações e depois de coroado e remido pela
Hierarquia Superior. Alem do mais temos que ficar atentos por que
muitos seres das sombras se fazem passar por seres de luz. Por isso já
ouvimos uma frase famosa que diz: “lobos em pele de cordeiros”.
Entendemos que o diabo nos ludibriou!... E por muitas vezes ao longo da
historia. O negro não sabia que era o diabo, sabê-lo-ia o bugre dispondo
de uma mitologia inferior?... Não tinham uma noção semelhante. O bugre
conhecia o Caissoré, Curupira, Curuganga, Anhangá, entidades que se
tornam pesadelos, que dão maus sonhos e que estorvam a pesca e a caça,
contudo, o homem pode amansá-los, dando-lhes pequenas oferendas. Quem
ameaçaria o diabo?... Este pretenso rei será tão porco, tão mesquinho
que se venda por alguns bicos de vela? Será isso um rival de Deus?... Um
diabo, um Satanás?... O negro não servia a interesses financeiros;
perante Deus não existe rival. ELE é a Criação, o Princípio e o Fim! Mas
no fundo sabemos que o “inimigo” tão citado pelos primeiros Cristãos
realmente existem e exu como um ser pagão em sua essência ainda não
evoluída pode ser usado pelos senhores das trevas pertencentes às hostes
do Dragão Cruel.
Para
cada elemento ELE (Deus) criou uma força dominante, um encarregado, um
guardião, um Orixá que rege o plano Cósmico, mas, criou também, o
intermediário, o EXU, o Deva, o Orixá Menor, que atua em harmonia com
seu gerente, ou seja, o Orixá. Lá no alto está a Energia Cósmica, Oxalá,
Iemanjá, Ogum, Oxóssi e outros; no plano intermediário, Exu-Tameta, da
Rua, Exu-Odé, da encruzilhada, Exu-Adé, do chão, Exu-Ibanan, dos montes,
Exu-Itatá, das pedras, Exu-Ibê, do terreiro, Exu-Gelu, das estradas
longas, Exu-Baru, do escuro, Exu-Bara, este, puramente africano. Porem
nem por isso podemos afirmar que sejam seres dóceis, iluminados e nem
tampouco devemos invocá-los ou evoca-los quando quisermos. Tudo
dependerá das necessidades evolutivas e carmicas. Alem disso temos que
estar bem conscientes dos verdadeiros agentes já iluminados e que
trabalham a favor do Astral Superior. Sem discórdia, rebeldia ou
falsidade.
Exu
pode ser comparado com o demônio hebreu, o Plutão do grego, o Tifon do
egípcio, o Arimam do babilônio, o Digin do chinês, o Ravana do hindu, o
Bará do negro, o Caissoré do bugre dependendo da Corrente a que ele
pertença, ou seja, se for usado para fazer o mal e se realmente ele
aceitar essa empreitada... Este demônio bestificado não faz parte deste
Panteon! Só pode ser fruto do interesse econômico de escritores mal
informados, sem decência ou respeito pelo belo. Aqui dou meus aplausos
àqueles escritores que tiveram a honradez de procurar um novo
sincretismo, tentando introduzir uma imagem condizente com o altruístico
trabalho desses incansáveis irmãos EXÚS. No entanto volto a afirmar a
magia de Exu é muito perigosa. Alem do mais, essa historia que Exu não é
nem bom nem mal e simplesmente é neutro não passa de bobagem. Pois tudo
no universo tem um caminho e uma fonte. Também afirmo que se enganam
todos aqueles que acham que Exu é manipulável, ignorante ou sem
conhecimento moldado. O que nós encontramos são espíritos ainda não
evoluídos que se presta a fazer o mal, ainda.
Bestificar
Exu é burrice, mas santificá-lo também. Tudo tem seu propósito e
aplicação necessária dependendo da Era e do projeto cósmico do momento.
Em termos de Alta Magia é falta de inteligência fixar a natureza das
coisas. Todo é mutável, e se encontra em transformação constante. Dizer
que Ogum é guerreiro; Oxossi é caçador; Xangô é senhor da Justiça, etc.
Alem de limitador é muito sectário. Pois afirmar que Ogum é somente um
guerreiro é como afirmar que todo filho desse orixá são briguentos. Mas
nós sabemos que existem muitos filhos desse orixá que são calmos,
amorosos e detestam violência.
Assim
da mesma forma Exu se apresenta de muitas formas. No entanto a
descrição arquetípica de cada orixá é fundamental para que possamos nos
aprofundar nas definições de todas as entidades. Por isso em sua grande
maioria, as pessoas que tem a cabeça dominada por exu são voltadas para
uma vida viciosa e comportamentos libidinosos. Mas já conheci alguns que
tem comportamento caridoso e muita simpatia. Ou seja, nem tudo é o que
parece ser! Ou melhor, nem tudo que reluz é ouro! Assim discordo
profundamente com os que dizem que simplesmente Exu é um demônio e com
os que afirmam que ele é uma entidade neutra. E mais ainda com os que
dizem que Exu é uma entidade boa. O que posso afirmar com segurança é
que ele é uma entidade necessária para nossa evolução e quando evoluídas
tornam-se paralelamente importantes com os orixás.
Carlinhos Lima – Astrólogo, Tarólogo e Pesquisador. Criador da Umbanda Astrológica.
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