Mal-estar na Civilização - Pobreza do Mundo Rico
Após muitas horas de meditação comecei a notar que quase todas as pessoas tinham a mesma queixa. Eles dizem quase sempre na grande maioria que estão numa situação péssima. Ou, a propósito de outra pessoa que ela está atravessando uma fase ruim. Mas logo se percebi que esses “períodos difíceis” ocorrem com freqüência excessiva; na verdade, tem-se tornado um aspecto permanente da vida das pessoas. Elas, porém, continuam a falar como se, se tratasse de algo passageiro e logo fossem passar para uma fase mais calma e feliz.
Ao pesquisar profundamente esse fenômeno nota-se que muitas dessas pessoas são talentosas e maduras – médicos, executivos, editores, cientistas, engenheiros, professores, artistas. Muitas residem em belas casas, tem automóveis caros e até barcos. Na verdade é mesmo gente que vence na vida.
Quase todas reconheciam estar em situação melhor que antes: ganham mais dinheiro, moram em casas mais confortáveis, tem carros mais luxuosos, roupas mais finas... No entanto, quase sem exceção, dizem esta passando por um “período difícil”.
Assim podemos perceber que a questão da riqueza de nossa sociedade, tornou-se um fato da crescente infelicidade das pessoas. Vemos aqui uma tremenda contradição. Parece óbvio que, num sentido profundo, essencial, não são absolutamente ricos, mas na verdade paupérrimos.
Mas, Como é ser pobre? Qual é o sofrimento psicológico normalmente associado à pobreza? Ela esta sempre ligada ao medo e à ansiedade pelo futuro, ao temor do abandono, da solidão, dos danos físicos. Mas nem sempre os pobres são pessoas presas, tensas, ladinas, grosseiras. Nem os entediados, desesperançados ou consumidos por fantasias absurdas, e drogando-se com algum veneno que destrói seus corpos oferecendo apenas alívio de um esquecimento passageiro. A vida deles pode ser a própria imagem do inferno, somente se ambos se entregarem ao fracasso e a derrota.
As imagens do inferno apresentadas, ao longo dos séculos, pelos grandes sábios do mundo Começando pelo símbolo mais óbvio e corriqueiro, o fogo eterno. Não é difícil perceber que isso significa a tortura provocada pelos próprios desejos.
Uma palavra mais moderna para essa condição é neurose – um quadro em que a pessoa se vê presa a um esquema recorrente de sofrimento emocional, em que a obtenção do pretenso objeto de desejo só serve para intensificar o desejo em si.
Recentemente, e de maneira mais interessante, o termo vício passou a ser usado para descrever esse insidioso sofrimento psicológico. E na verdade essa é uma imagem muito bem empregada. Assim como a pessoa pode viciar-se num narcótico como o ópio ou a heroína, todos nós temos um anseio vicioso por sexo, reconhecimento, comida, roupas, vitórias ou uma das incontáveis coisas e experiências que formam o objeto daquilo que chamamos emoções. Mas como se sabe tudo tem uma regra e a principal delas é equilíbrio. E esse equilíbrio é muito bem aplicado através da prudência. Ou seja, tudo na medida certa não faz mal, mas tudo em exagero é nocivo.
Quando os grandes pensadores do passado nos advertem sobre os males do desejo, estão falando disso. Estão falando de vício. Nenhum sábio – nem Cristo, nem Moisés ou Sócrates – jamais condenou o desejo pelo desejo. Não, o que tentaram mostrar é que nós permitimos que os desejos definam o nosso senso de identidade. Alimentamos os desejos com uma energia psíquica preciosa, que deveria desempenhar uma função muito superior em nossas vidas.
Alimentados por essa energia, os desejos se transformam em ânsias, vícios; e não há melhor representação desse estado de coisas do que a imagem do fogo eterno. O homem só se torna sábio através da prudência e para isso ele tem que dominar seus desejos e não ser dominados por eles.
Dante, na primeira parte da Divina Comédia desce ao inferno, e logo se compadece dos homens e mulheres que lá são atormentados. Mas o seu guia, o grande poeta Virgílio, censura-o. Não sinta piedade deles, explica. Estão tendo exatamente o que desejam. O inferno é o estado em que somos impedidos de ter o que realmente nos é necessários porque damos valor ao que apenas desejamos. É uma condição de privação absoluta, isto é, de pobreza. É por isso que a humildade é um dom que foi louvado por Jesus. Pois ela nos ajuda a nos conformar com que temos e somos, não com o que desejamos.
A atual estrutura econômica da sociedade moderna baseia-se não na satisfação, mas na criação de desejos. Esse aspecto de nossa ordem econômica é um dos principais fatores que a distinguem das economias de quase todas as outras culturas da história. Vendo o papel da mídia e da publicidade de nossa época vemos que toda sociedade se encontra totalmente fora do curso o qual no ensina as antigas filosofias. Então o que vemos hoje é quase uma descrição budista tradicional do inferno: Não podemos dizer que a produção satisfaz desejos se ela própria os cria.
Se um homem, de manhã, fosse assaltado por uma caterva de demônios que lhe instilassem a paixão, a cada ora por coisas diferentes, haveria razão para aplaudir o esforço de possuir os bens, esquisitos embora, que atiçam essa chama. Mas se essa paixão for o resultado de seu ato inicial de cultivar os demônios e se seu esforço para quitá-los induz os demônios a um afã cada vez maior, bem poderíamos questionar a racionalidade dessa solução. Exceto se sapeado por atitudes convencionais, o homem ficaria indeciso sobre qual seria a solução: mais bens ou menos demônios? Na verdade tudo o que o homem precisa pra compreender o conceito dos desejos é aceitar as suas necessidades.
Quando necessitamos de algo corremos atrás de consegui-lo mesmo que isso não seja possível. Assim ao aceitar nossas necessidades não ficaremos influenciáveis pelos desejos. No entanto vamos supri-las na medida do possível e não na medida de nosso querer. Por isso os mandamentos da Lei de Deus nos orientam a não desejar as coisas aléias. Elas são na verdade tudo aquilo que desejamos e não temos como conseguir.
Às vezes até se encontra um meio desonesto para consegui-las, mas assim encontra-se primeiramente o pecado, pois desobedece-se a prudência. Como por exemplo quando se deseja a mulher do próximo.
Carlinhos Lima – Astrólogo.
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