Desdobramentos e Conclusão
Durante a Idade Média e o Renascimento, os decanos ou decanatos foram importantes não só na astrologia propriamente dita, mas também nas operações de magia. As divindades, ou por vezes demônios (daimons), que presidiam cada 10 graus do zodíaco eram invocados com freqüência. Seguindo a tradição hermética, cada um dos decanos estava associado a certas plantas, flores, pedras, minerais e animais.
Os ocultistas então invocavam esses 36 decanos pretendendo com isso manipular e controlar o destino.
Entre todas as referências feitas aos decanos nesse período, destaca-se aquele que é um dos mais importantes manuais de magia da Idade Média, o Ghayat al-Hakim, um manuscrito sobre magia astral redigido antes do século XIII por um hermetista árabe desconhecido que utiliza fontes anteriores ao século X. Traduzido para o espanhol em 1256 e depois para o latim, ficou mais conhecido no Ocidente como Picatrix. Misterioso, confuso, um dos mais completos grimoires, o Picatrix foi leitura obrigatória para nomes como Cornelius Agrippa, Marsilio Ficino, William Lilly e Elias Ashmole.
Trata-se de, na verdade, de uma compilação de obras antigas sobre hermetismo, neo-platonismo e de muitos autores árabes, entre os quais, o célebre Abu Ma’shar. E foi a partir da obra de Abu Ma’shar que os decanos chegaram ao Picatrix.
Aqui os decanos estão associados aos planetas. O primeiro decano de cada signo pertence ao planeta regente do signo. Os dois decanos seguintes são atribuídos aos planetas regentes dos signos seguintes da mesma triplicidade, na seqüência zodiacal. Assim, o primeiro decano de Áries pertence a Marte; o segundo, ao Sol e o terceiro, a Júpiter.
O primeiro decano de Touro está associado à Vênus; o segundo, a Mercúrio e o terceiro, a Saturno. O primeiro decano de Gêmeos vincula-se a Mercúrio; o segundo, a Vênus e o terceiro, a Saturno; e assim por diante. Além disso, a cada decano são atribuídos dois talismãs e uma cor.
Por outro lado, vivendo no final do século XVI e começo do século XVII, o matemático e astrólogo Jean-Baptiste Morin, também conhecido como Morin de Villefranche, era um ferrenho seguidor de Ptolomeu, e como este, desprezava o sistema dos decanos. Diferentemente, porém, do autor do Tetrabiblos, Morin não se contenta com o silêncio e atribui às proezas do Demônio algumas das subdivisões impostas ao zodíaco, entre elas a decânica . Mas que esta citação do tão difamado Satanás não nos leve a pensar que Morin fosse um autor ingênuo ou coisa parecida.
Muito pelo contrário, ele desenvolveu uma verdadeira sintaxe para a leitura do mapa astrológico, sem a qual a astrologia não pode ser considerada uma linguagem, mas apenas uma salada de signos, no sentido semiótico do termo.
Um século depois, no sistema de dignidades utilizado por William Lilly (século XVII), que serve para aferir a força de um planeta enquanto agente promissor, a face, que é a última das dignidades, a de menor peso, constitui uma divisão ternária em cada signo do zodíaco, semelhante aos decanos.
Como estes, as faces são subdivisões iguais de 10 graus de arco. Também neste esquema, cada face está associada a um planeta. A seqüência, começando em Áries, é a da astrologia helenista: Marte – Sol – Vênus – Mercúrio – Lua – Saturno – Júpiter. É a chamada ordem dos caldeus.
Na astrologia moderna, com exceção daqueles que seguem as técnicas de William Lilly ou insistem em fazer “magia”, os astrólogos distribuem os decanatos segundo a ordem das triplicidades: o primeiro decanato pertence ao próprio signo e os dois outros, na ordem de seqüência, aos dois signos (mais do que aos planetas) seguintes da mesma triplicidade, como vimos no Picatrix. Mas aqui o que vale são os signos, o que torna mais diversificada a leitura do mapa.
Observa-se, no entanto, que mesmo levando em consideração a validade dos decanatos, os próprios astrólogos que fazem uso deles não se entusiasmam muito com sua importância (dos decanatos, é claro). Serviriam para dar um maior detalhamento à análise, embora não se explique como articular, na interpretação, esses significados com as outras variáveis do mapa. Na verdade fica valendo aquela velha história: mistura e manda! Ou seja, na há nenhum ordenamento, nenhum método para a interpretação, é tudo um caos onde se embaralham e se entrechocam um sem-número de componentes, resultando em leituras contraditórias, desnecessariamente complexas e não raro disparatadas.
Primeiramente vimos que os decanos egípcios e seus significados mítico-religiosos foram enxertados num sistema que lhes era estranho, qual seja, o zodíaco babilônico. Este verdadeiro sincretismo de culturas que foi o ambiente cultural de Alexandria também foi o ambiente onde nasceu o hermetismo e a astrologia hermética, que incluía contribuições gregas, babilônicas e egípcias. Na astrologia hermética, os decanos eram utilizados num contexto mágico-metafísico, como podemos inferir dos fragmentos de Nechepso-Petosiris e do Livro de Hermes, no caso da magia, e de alguns textos que fazem parte da Hermetica – Corpus Hermeticum, Asclépio e os Excertos de Estobeu -, no caso da metafísica.
As atribuições de cada decanato, e, portanto seus significados, variaram consideravelmente no decorrer dos séculos, e muito, muito mais do que a natureza dos signos, planetas e Casas Terrestres. Só este aspecto já é mais do que suficiente para colocá-lo no mínimo sob suspeita. Soma-se a essa irregularidade o fato de ser usado sem muito destaque mesmo no sistema de William Lilly. Astrólogos têm uma tendência a acumular indiscriminadamente toda e qualquer técnica que lhes seja apresentada. Nos dias de hoje, muitos se perdem num cipoal de sistemas, novos e antigos, sem se preocupar em construir um método de análise, pensando ingenuamente tratar-se de um artista exercitando a liberdade criativa, pensando estar utilizando uma linguagem, quando na verdade não existe linguagem sem sintaxe, sem ordenamento ou marcação de função.
Embora a astrologia moderna não se tenha despegado totalmente do espírito esotérico, já é possível observar uma tímida, porém detectável, tendência em direção ao método científico.
Creio que não é com pouca resistência que tentaremos levar adiante a proposta de uma astrologia construída a partir da observação sistemática das correlações entre a mecânica celeste e os fenômenos naturais e humanos. Entendemos que o método científico é quem faz a leitura mais profunda e eficiente do cosmo, desse todo ordenado que é o universo e as entidades biológicas, conhecidas ou não, que nele nascem, vivem e morrem; é esse mesmo método que tem construído os modelos mais consequentes que conhecemos. Provavelmente não deve ser o único válido, deve haver outros caminhos.
Sabemos, porém, por experiência histórica, que discursos pomposos e malabarismos linguísticos são áridos como o deserto. No final das contas, o que eles têm para nos mostrar é absolutamente nada.
Hoje eu tenho por certo que a astrologia em conexão direta na suas formas é que realmente pode produzir e maiores e melhores resultados. A astrologia com seus métodos esotéricos em cima de uma base científica terão uma escala maior de aproveitamento.
A forma mais aceitável dos decanatos no meu entender que melhor funciona é o sistema que usa o regente das triplicidades como regente dos decanatos.
Aqueles que não gostam de dividir a esfera celeste e a mandala do zodíaco não entenderam ainda que tudo que existe no universo se divide em partes.
As moléculas, os átomos e o Dna humano são partes de um todo. Só com a compreensão dos mistérios contidos neles é que os cientistas poderão decifrar os mistérios da vida. Assim também a astrologia através de todas as divisões apresentadas por estudiosos ao longo da historia só tem a ganhar e evoluir.
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A Divisão do Horoscopo - 3
Carlinhos Lima – Estudos e Pesquisas Astrológicas Climazem.
13/06/2008
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