Os mensageiros do sofrimento
A passagem mais freqüente para o Sagrado é o sofrimento – e a insatisfação. Inúmeras jornadas espirituais começam num encontro com as dificuldades da vida. um começo comum entre os mestres ocidentais é o sofrimento da vida em família: pais alcoólatras, doenças graves, morte de um parente querido, frieza e ausência dos pais e hostilidade entre membros da família são situações presentes em muitas historias. Para vários mestres de meditação, sábio e respeitado, a jornada começou com isolamento e separação.
Todos sabem que o coração precisa de amparo espiritual em momentos de dificuldades. A crise é um convite para o espírito, não apenas na infância, mas sempre que a vida passa pelo sofrimento. Para muitos mestres, o portão para o espiritual se abriu quando a perda ou desespero, o sofrimento ou a confusão os levou a buscar consolo para o coração, a buscar uma totalidade escondida. A longa viagem de um professor começou na vida adulta, em outro país.
O encontro com o sofrimento que leva à procura de uma resposta é uma historia universal. O príncipe Sidarta, o futuro Buda, vivia isolado em belos palácios, protegido de todos os problemas pelo pai. Finalmente, quis sair para ver o mundo. Percorrendo o reino de carruagem, na companhia do cocheiro Channa, viu três cenas que o chocaram profundamente. Primeiro viu um velho curvado e frágil, andando com dificuldade. Depois viu um homem gravemente doente, atendido pelos amigos. Depois viu um cadáver. A cada vez perguntou ao cocheiro: “Com quem essas coisas acontecem?” E todas às vezes Channa respondeu: “Com todo o mundo, senhor”.
Essas visões são chamadas de “Mensageiros Celestiais”, pois assim como despertaram o Buda, elas nos fazem lembrar de buscar a liberação, de buscar a liberdade espiritual nesta vida.
Você se lembra da primeira vez que viu um cadáver ou pessoa muito doente? Esse primeiro encontro com a doença e a morte provocou um choque em todo ser de Sidarta. Ele se perguntou: “Qual a melhor maneira de viver numa vida assolada pela doença e pela morte?” o quarto mensageiro veio na forma de um monge que ele viu na orla da floresta, um eremita que tinha devotado uma vida de simplicidade à busca de um fim para as dores do mundo. Ao vê-lo, Buda percebeu que ele também devia seguir esse caminho: enfrentar diretamente as dores da vida para encontrar um caminho além do alcance dessas dores.
De uma forma ou de outra, os mensageiros celestes vem para todos nós, convidando-nos a buscar a totalidade que falta na nossa vida. Eles não assumem apenas a forma das nossas próprias dificuldades, mas também as dores do mundo, cujo efeito é poderoso: um simples noticiário pode abrir o nosso coração. As enchentes perenes de Bangladesh, a fome e a guerra da África ou a guerra do trafico no Rio de Janeiro – são esses alguns dos mensageiros. Eles são um chamado. Assim como fizeram com o Buda, eles nos convidam a despertar.
Segundo os sufis, é “a voz do bem-amado”, que nos chama para uma totalidade que sabemos que existe. Nascemos neste mundo com a canção nos ouvidos, mas é pela ausência dela que, em geral, a conhecemos.
Vivendo sem uma iluminação do espírito, acabamos sentindo a saudade profunda de uma criança perdida, uma saudade sutil, como se soubéssemos que alguma coisa essencial está faltando, alguma coisa que dança na orla da nossa visão, que está sempre conosco, como o ar que só é lembrado quando o vento sopra. No entanto esse espírito indefinível que nos ampara que nos alimenta o coração incita a buscar o que importa na vida. Somos compelidos a voltar à nossa verdadeira natureza e ao nosso coração, que é sábio e conhecedor.
Eu mesmo só fui de encontro ao tarô e a astrologia numa época de muitas dificuldades em minha vida. Apesar de sempre ter um profundo interesse por esses temas só criei coragem pra adentrar nesses assuntos em meio ao sofrimento daquela época. Tudo isso faz parte da jornada heróica do ser humano o qual só avança quando é testado e purificado pelo sofrimento.
Na tradição Zen, essa jornada é a descoberta na historia do boi sagrado. Na Índia antiga, os bois simbolizavam as qualidades maravilhosas que habitam todos os seres, que nos despertam para a descoberta da nossa verdadeira natureza. A historia zen sobre o pastor e o boi começa com uma pintura feita em pergaminho que mostra um homem vagando pela vegetação da montanha. A imagem é chamada “Procurando o Boi”. Atrás do homem há um labirinto de estradas que se cruzam: são as velhas estradas de ambição e medo, confusão e perda, exaltação e vergonha. Esse homem nem se lembra mais dos rios e das paisagens da montanha. Mas no dia em que lembra, parte em busca dos rastros do boi sagrado. Em seu coração, ele sabe que, mesmo nas gargantas mais profundas e nas montanhas mais altas, o boi não está perdido. Na beleza da floresta, ele pára a fim de descansar. E, olhando para baixo, vê os primeiros rastros.
Nas palavras de Joseph Campbell, a primeira visão do rastro do boi é um chamado para despertar, um puxão interior. Com isso surge uma questão sagrada, que é diferente para cada um de nós. Alguns questionam a dor, outros, qual a melhor maneira de viver, outros se perguntam o que é importante ou qual é o propósito da vida. Ou como é possível amar, quem somos como fazer para alcançar a liberdade. Em meio à correria da vida, alguns se perguntam: “Por que tanta pressa?” alguns mestres recorrem a filosofia para responder às perguntas; outros tentam a avenida da poesia e das artes. Essas questões sagradas são à raiz de muitas poesias.
Às vezes, o desabrochar da mente e do coração é como um chamado dos deuses, um empurrão que não vem da vida comum. É como se forças desconhecidas nos obrigassem a entrar na floresta à procura de um Mestre.
O choque das experiências de quase morte levou milhares de norte-americanos a se abrir para o espírito. Em Closer to the Light, o medico Melvin Morse documenta experiências de quase-morte vividas por crianças. Uma dessas crianças, ao sair do estado de coma depois de quase ter-se afogado, falou ao medico de uma figura dourada, um anjo, que a tirou da água escura e a levou por um túnel onde ela encontrou o avô, que tinha morrido anos antes, e depois o Pai do Céu.
No momento certo, todos nós vamos despertar. Talvez o despertar fique escondido no sótão durante anos, enquanto cuidamos dos filhos ou da carreira profissional. Mas algum dia vai aparecer, derrubar o portão e dizer: “Pronto ou não, cá estou eu”.
Estar vivo é por si só um mistério. Mas dentro de nós há uma vontade secreta de lembrar dessa luz que nos desperta o espírito e traz o conhecimento necessário pra crescer e evoluir espiritualmente. A vontade de sair do tempo, de sentir nosso verdadeiro lugar neste mundo dançante. É por onde começamos e para onde vamos voltar.
Que o Criador desperte a Sabedoria que a em nossa alma.
Carlinhos Lima – Astrólogo e pesquisador.
A passagem mais freqüente para o Sagrado é o sofrimento – e a insatisfação. Inúmeras jornadas espirituais começam num encontro com as dificuldades da vida. um começo comum entre os mestres ocidentais é o sofrimento da vida em família: pais alcoólatras, doenças graves, morte de um parente querido, frieza e ausência dos pais e hostilidade entre membros da família são situações presentes em muitas historias. Para vários mestres de meditação, sábio e respeitado, a jornada começou com isolamento e separação.
Todos sabem que o coração precisa de amparo espiritual em momentos de dificuldades. A crise é um convite para o espírito, não apenas na infância, mas sempre que a vida passa pelo sofrimento. Para muitos mestres, o portão para o espiritual se abriu quando a perda ou desespero, o sofrimento ou a confusão os levou a buscar consolo para o coração, a buscar uma totalidade escondida. A longa viagem de um professor começou na vida adulta, em outro país.
O encontro com o sofrimento que leva à procura de uma resposta é uma historia universal. O príncipe Sidarta, o futuro Buda, vivia isolado em belos palácios, protegido de todos os problemas pelo pai. Finalmente, quis sair para ver o mundo. Percorrendo o reino de carruagem, na companhia do cocheiro Channa, viu três cenas que o chocaram profundamente. Primeiro viu um velho curvado e frágil, andando com dificuldade. Depois viu um homem gravemente doente, atendido pelos amigos. Depois viu um cadáver. A cada vez perguntou ao cocheiro: “Com quem essas coisas acontecem?” E todas às vezes Channa respondeu: “Com todo o mundo, senhor”.
Essas visões são chamadas de “Mensageiros Celestiais”, pois assim como despertaram o Buda, elas nos fazem lembrar de buscar a liberação, de buscar a liberdade espiritual nesta vida.
Você se lembra da primeira vez que viu um cadáver ou pessoa muito doente? Esse primeiro encontro com a doença e a morte provocou um choque em todo ser de Sidarta. Ele se perguntou: “Qual a melhor maneira de viver numa vida assolada pela doença e pela morte?” o quarto mensageiro veio na forma de um monge que ele viu na orla da floresta, um eremita que tinha devotado uma vida de simplicidade à busca de um fim para as dores do mundo. Ao vê-lo, Buda percebeu que ele também devia seguir esse caminho: enfrentar diretamente as dores da vida para encontrar um caminho além do alcance dessas dores.
De uma forma ou de outra, os mensageiros celestes vem para todos nós, convidando-nos a buscar a totalidade que falta na nossa vida. Eles não assumem apenas a forma das nossas próprias dificuldades, mas também as dores do mundo, cujo efeito é poderoso: um simples noticiário pode abrir o nosso coração. As enchentes perenes de Bangladesh, a fome e a guerra da África ou a guerra do trafico no Rio de Janeiro – são esses alguns dos mensageiros. Eles são um chamado. Assim como fizeram com o Buda, eles nos convidam a despertar.
Segundo os sufis, é “a voz do bem-amado”, que nos chama para uma totalidade que sabemos que existe. Nascemos neste mundo com a canção nos ouvidos, mas é pela ausência dela que, em geral, a conhecemos.
Vivendo sem uma iluminação do espírito, acabamos sentindo a saudade profunda de uma criança perdida, uma saudade sutil, como se soubéssemos que alguma coisa essencial está faltando, alguma coisa que dança na orla da nossa visão, que está sempre conosco, como o ar que só é lembrado quando o vento sopra. No entanto esse espírito indefinível que nos ampara que nos alimenta o coração incita a buscar o que importa na vida. Somos compelidos a voltar à nossa verdadeira natureza e ao nosso coração, que é sábio e conhecedor.
Eu mesmo só fui de encontro ao tarô e a astrologia numa época de muitas dificuldades em minha vida. Apesar de sempre ter um profundo interesse por esses temas só criei coragem pra adentrar nesses assuntos em meio ao sofrimento daquela época. Tudo isso faz parte da jornada heróica do ser humano o qual só avança quando é testado e purificado pelo sofrimento.
Na tradição Zen, essa jornada é a descoberta na historia do boi sagrado. Na Índia antiga, os bois simbolizavam as qualidades maravilhosas que habitam todos os seres, que nos despertam para a descoberta da nossa verdadeira natureza. A historia zen sobre o pastor e o boi começa com uma pintura feita em pergaminho que mostra um homem vagando pela vegetação da montanha. A imagem é chamada “Procurando o Boi”. Atrás do homem há um labirinto de estradas que se cruzam: são as velhas estradas de ambição e medo, confusão e perda, exaltação e vergonha. Esse homem nem se lembra mais dos rios e das paisagens da montanha. Mas no dia em que lembra, parte em busca dos rastros do boi sagrado. Em seu coração, ele sabe que, mesmo nas gargantas mais profundas e nas montanhas mais altas, o boi não está perdido. Na beleza da floresta, ele pára a fim de descansar. E, olhando para baixo, vê os primeiros rastros.
Nas palavras de Joseph Campbell, a primeira visão do rastro do boi é um chamado para despertar, um puxão interior. Com isso surge uma questão sagrada, que é diferente para cada um de nós. Alguns questionam a dor, outros, qual a melhor maneira de viver, outros se perguntam o que é importante ou qual é o propósito da vida. Ou como é possível amar, quem somos como fazer para alcançar a liberdade. Em meio à correria da vida, alguns se perguntam: “Por que tanta pressa?” alguns mestres recorrem a filosofia para responder às perguntas; outros tentam a avenida da poesia e das artes. Essas questões sagradas são à raiz de muitas poesias.
Às vezes, o desabrochar da mente e do coração é como um chamado dos deuses, um empurrão que não vem da vida comum. É como se forças desconhecidas nos obrigassem a entrar na floresta à procura de um Mestre.
O choque das experiências de quase morte levou milhares de norte-americanos a se abrir para o espírito. Em Closer to the Light, o medico Melvin Morse documenta experiências de quase-morte vividas por crianças. Uma dessas crianças, ao sair do estado de coma depois de quase ter-se afogado, falou ao medico de uma figura dourada, um anjo, que a tirou da água escura e a levou por um túnel onde ela encontrou o avô, que tinha morrido anos antes, e depois o Pai do Céu.
No momento certo, todos nós vamos despertar. Talvez o despertar fique escondido no sótão durante anos, enquanto cuidamos dos filhos ou da carreira profissional. Mas algum dia vai aparecer, derrubar o portão e dizer: “Pronto ou não, cá estou eu”.
Estar vivo é por si só um mistério. Mas dentro de nós há uma vontade secreta de lembrar dessa luz que nos desperta o espírito e traz o conhecimento necessário pra crescer e evoluir espiritualmente. A vontade de sair do tempo, de sentir nosso verdadeiro lugar neste mundo dançante. É por onde começamos e para onde vamos voltar.
Que o Criador desperte a Sabedoria que a em nossa alma.
Carlinhos Lima – Astrólogo e pesquisador.